domingo, 10 de abril de 2011

Imagina Nação

ma - imagina nação

“É uma história da nossa infância que retratava uma atitude. Da história, tinha-me esquecido. A atitude, conheço desde sempre.”

A noite estava gélida. A soleira era curta e, apesar da gigante porta trabalhada ao estilo Manuelino, a imponência de tal obra de arte não era suficiente para aquecer o corpo, quando muito poderia embriagar a alma.

A distância entre as duas margens da rua era de uns dez metros e apenas um carro se mantinha estacionado do outro lado servindo-lhe de reflexo para a lua que se impunha por detrás do velho prédio que o acolhia à porta.

Dos seis lampiões, três de cada lado e plantados de forma intercalada, apenas um funcionava. Iluminava-o. Ali, sentado, coberto com a manta verde e vermelha, segurava a última caixa de fósforos que lhe faltava negociar. A noite gelava tanto os pensamentos que a caixa já estava bem mais leve do que quando lhe removeu o plástico. Perto dos fósforos queimados, o boné no chão, dava ao brilho das estrelas uma mágica financeira. A economia tinha ali um brilho como hoje não se vê.

(…) Da história, tinha-me esquecido. A atitude, conheço desde sempre. Se sentássemos o nosso país a uma soleira via-mos que o nosso papel não tem sido muito diferente. Temos de aproveitar cada minuto para pensar como podemos fazer a diferença, e o seguinte para fazer a diferença. Se assim não for, vamos queimar todos os cartuchos no sentido errado, no egoísmo ou nas lamentações. Ou nos juntamos agora, ou um dia também morreremos de frio.

Da minha parte, hoje, deixo-vos esta história. Afinal de contas, atento às últimas indicações dos nossos líderes, parece-me que é mesmo isto que é preciso: imaginação.

in "Um momento, por favor…"
(c) 2011 Manuel Almeida

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