domingo, 12 de junho de 2011

Juro

  ma - juro

“Outra coisa que eu gostava, era de poder jantar salsichas como dantes fazíamos.”

Querida senhora da segurança social e marido (o do banco), eu sou o Pedro, já tenho 6 anos e 7 meses e ainda tenho muita coisa de aprender sobre os grandes, mas já tenho idade suficiente para poder ajudar.

Vinha pedir-vos para, por favor, salvarem a minha família da crise (pelo menos é assim que a minha avô chama a isto). A minha mãe não trabalha e dorme a chorar a noite quase toda na casa de banho. Ela vai para lá para não me acordar nem ao meu pai, mas eu ouço-a.

(…)

Na noite passada, quando fui apagar a televisão grande que ficou acesa na sala, porque o meu pai adormeceu a ver a sport-tv, ao voltar para o quarto vi o meu porquinho. Mas como é que não me lembrei disso antes?! O meu avô bem que já me tinha dito que tinha ali uma fortuna.

Neste envelope, envio-vos todas as notas que tenho. As moedas são pesadas mas como valem pouco e o envelope fica esquisito (…)

Foi criado um protocolo entre a Associação para a Defesa do Consumidor e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa com o intuito de sensibilizar e educar para a gestão das finanças pessoais e para um melhor entendimento da problemática do endividamento, desde os mais jovens até aos pais.

Numa altura em que engolimos diariamente as drogas da crise, são iniciativas como estas que devem partir não só de organismos públicos e privados como das próprias famílias. São estes os melhores fármacos que podemos criar para combater a crise e o consumismo desmesurado que nos infectou durante os últimos anos pelo facto de os nossos pais estarem tão mergulhados em trabalhar para o nosso futuro que não tiveram tempo suficiente para nos avisar sobre o problema. Baixamos as defesas e esta bactéria que em nada tem a ver com rebentos atingiu-nos silenciosamente, incubou como bem quis e agora delicia-se com a nossa queda, aparentemente degenerativa e irreversível.

(…)

in "Um momento, por favor…"
(c) 2011 Manuel Almeida