quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Vais ao quadro

©2011 missu amplu

“No meio do frenesim dos défices, os buracos na justiça são bichos da madeira que corroem o sentido dúbio de infância a que algumas crianças são submetidas.”

(…) Abraça-me mais uma vez, eu falo contigo, a sério, falo. Não me largues agora, acho que vou falar, sim, quero, não me largues por favor. Olha, deixa-me limpar os olhos, ouve. Sabes, lá na escola… (…)

(…) Deve ser uma gestão baseada na máxima política que é cliché incansável nos tempos: mais vale ser mal falado, do que não ser falado. O tempo apaga.

Pois, ao que parece, não é só o tempo. Em primeiro, temos a arte que a justiça tem em fazer levitarem no ar, como penas, penas suspensas, os crimes cravados por quem sofre desta doença de não conseguir controlar os seus impulsos (é uma doença, não é?!). Assim lhes chamam, suspensas. Depois, vagueando por entre a vergonha das vítimas e a ignorância da lei, pendem-se como seres dotados de créditos extra no jogo do abuso da sorte e dá-se o milagre da reintegração social. (…)

Quando o caminho, seja para a escola, seja para onde for, tropeça em calçada de silêncio e medo, é tortuosa a entrada, o toque para dentro. O giz, podre, larga um odor de incógnita. No sumário, uma condenação admitida, um programa repleto de actividades extracurriculares que podem iniciar-se a qualquer momento, até mesmo, numa simples “ida ao quadro”.

in "Um momento, por favor…"
(c) 2011 Manuel Almeida

Denuncia. Só isso. Denuncia.