“perceber que a consequência de desemprego, exclusão, pobreza e fome, afectam a educação e desaguam na rua da violência”
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Há quanto tempo não chegava um carregamento de cálcio. Até que enfim. Talvez se consiga ainda recuperar a terceira costela. O problema maior com que me debato é que não consigo sarar-lhe as contusões a tempo, antes de virem mais impactos daqueles. Farto-me de bombear todos os dias, mas daqui também pouco mais posso fazer, já Deus sabe o que faço.
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Céus, parem com os gritos ossadas! Um, dois… um, dois… um dois… vá miúdo aguenta-te!… Porra! Façam alguma coisa aí em cima, não o deixem desistir. Por favor... Hei, não, outra vez na… - uma pancada localizada nas costas interrompeu o esforço. (…)
(enquanto a adrenalina descia, os pulmões inspiraram fundo acompanhados de três sufocos e a mãe tapava-lhe a ferida com a gaze)
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Estamos em século que não se justifica não se trabalhar de forma interligada, não se justifica não se cruzarem tantos dados espalhados que nos permitam perceber que a consequência de desemprego, exclusão, pobreza e fome, afectam a educação e desaguam na rua da violência. Tanto se investe em transformar dados em informação nas finanças.
Talvez no dia em que uma notícia de maus tratos infantis caia mesmo em cima de eleições, talvez numa altura em que a crise económica deixe de ser brinco nas nossas orelhas, talvez aí, dizia eu, haja tempo para dedicar mais algumas páginas nos cadernos dos programas eleitorais à violência infantil.
in "Um momento, por favor…"
(c) 2011 Manuel Almeida