domingo, 13 de fevereiro de 2011

Um momento, por favor…

 

É a esquizofrenia dos conceitos de vontade e tempo. O acto de nos voluntariarmos para ajudar está intransigentemente ligado à quantidade de tempo que temos de saldo no balanço das nossas ocupações. Não ajudas, logo não tens tempo.

Não, nada disso. O problema é o tempo. Esse que nos deixa dizer que é nosso. Esse que nos carrega até ao fim e que apesar do desperdício que fazemos dos momentos que nos dá, logo a seguir dá-nos mais outro.

Há os que têm e os que não têm. Se estou a falar de tempo? Não. De saúde, dinheiro, educação, amigos ou família. Há os que têm tudo isto. Há os que não têm tudo isto mas têm frio e fome – compensa? – São os que têm o tempo errado, os que têm momentos indesejados. Momentos que sonhamos não os ter. E quando não temos nada disto, não temos tempo. Tempo para alguém. Tempo para ninguém.

Um dia por semana, ao início da noite, podemos preparar com uma equipa refeições aquecidas pelo carinho incondicional e levar àqueles que dormem na fria calçada. Mas não temos tempo. Dar sangue três ou quatro vezes por ano, registarmo-nos como dadores de medula. Não, não temos tempo. Correr por uma causa ao Domingo de manhã. Nem pensar, é dia de descanso. Não temos tempo para comunicar. Não temos tempo para nada.

Não é vontade. É tempo. É só isso, que não temos. Vontade? Disso estamos a abarrotar. Nós e o resto do mundo. E da boa. Mas o tempo…

Estamos constantemente a vocalizar a falta dele. Mas a verdade é que nunca o tivemos. Somos posse desse senhor que nos dita a régua da vida. É, sempre foi e sempre será, o tempo que nos tem a nós. O que o tempo nos dá incessantemente são momentos: momentos com formas e tons diversos, umas vezes brancos e vazios, outras vezes apetrechados com detalhes e cores que nos identificam ou nem por isso. Às vezes são momentos tão nossos de direito que nem os vemos, outras vezes são momentos alheios pelos quais ficamos obcecados.

Mas há momentos dos outros que são nossos também. São os momentos em que podemos lá estar e dar a mão… nem que seja por um momento.

É o que faz monge que nos falta para ajudar. Temos o fardo do nosso umbigo que nos deixa constantemente de cabeça caída sem que vejamos um palmo de vida real à frente. Tropeçamos na calçada e gritamos que o mundo é cruel. O cabo perde sinal e reclamamos que a vida é uma desgraça. A casa é fria e não podemos viver assim.

Se um dia perdêssemos tudo, aí sim… teríamos tempo. A ajuda não tardaria a chegar. Seria só esperar o momento certo. O momento em que alguém teria tempo. Um pouco de tempo. Tempo para nós. Aquele tempo que antes, quando tínhamos tudo, era nosso.

M.A.

Dá um momento.

http://apps.facebook.com/volunteerbook/

http://www.bolsadovoluntariado.pt/

http://www.ipoporto.min-saude.pt/colaboreconnosco/Voluntariado/?sm=11_1

http://www.ipoporto.min-saude.pt/colaboreconnosco/dadores/?sm=11_0

http://www.casa-apoioaosemabrigo.org/voluntarios.html

http://www.ipsangue.org/maxcontent-documento-111.html

http://www.ipsangue.org/maxcontent-documento-109.html