domingo, 14 de agosto de 2011

Um país às toladas

 

 

 

“Porque o tacho estava ali – e passa um emprego –, porque não é sítio para a louça – e faltamos às aulas –, porque até está sujo e devia ter ido para lavar – e lutamos pelo subsídio de desemprego.”

Ri-me que nem um perdido. O ridículo deixa-nos de facto numa sobriedade que deixa o álcool pelas ruas da amargura. Não estou a falar de exemplares artistas de skate contra a mão. Mas, dar uma cabeçada, reparem, na quina da asa de um tacho! Bolas, não lembra a ninguém.

Fica perplexo com as coisas que lhe acontecem e, enquanto se desvanecem e outras passam ao lado, continua a fitar o acontecimento que já lá não está, o erro que não era suposto ter acontecido. Enquanto isso, as oportunidades vão passando. E de quem é a culpa? Claro, do tacho.

Porque o tacho estava ali – e passa um emprego –, porque não é sítio para a louça – e faltamos às aulas –, porque até está sujo e devia ter ido para lavar – e lutamos pelo subsídio de desemprego. O facto é que ele até queria a porra do tacho. Mas não ali. Tinha de ser no sítio certo.

– Mas quem se mexeu afinal? O tacho? – Perguntei.

– Está bem. – disse ele conformado – Tens razão. – assentiu.

Fiquei aliviado por ter incentivado alguém a ir para a cozinha e fazer algo. Passam-se uns segundos de embriagues e de repente, quando pensei que ia sentir o cheiro do refogado de ânimo, senti-me completamente derrubado com a finalização numa composição semântica que daria para o colocar no dicionário e dar-lhe aquele significado:

– Mas se não tivesse asa... nunca lhe tinha acertado na quina. – rematou, olhando desconfiado o lava-louça.

Ah, Portugal!

M.A.