‘‘Disse-lhe que podíamos ter comprado uma carteira de cromos, mas que em vez disso ela tinha ajudado a salvar vidas de pessoas com cancro... ela sorriu’’
Em cinco minutos que esperava por alguém, que não interessa aqui ao caso, assisti por diversas vezes, mais do que gostaria, às infortunas abordagens de uma senhora aos transeuntes que entravam no centro comercial.
A expressão "que maçada" ou até mais especificamente "outra vez?!" eram intercaladas com as mais recorrentes "agora não posso". Ao início pareciam-me um pouco descabidas aquelas reacções mas entendi perfeitamente o porquê quando entrei no centro comercial e me deparei com alguém, que antes não tinha cêntimos que cheguem para obter um autocolante, a beber um sumo de laranja natural acompanhado por uma torrada e uma, acabada de adquirir, revista de automóveis.
Alguém tem de explicar a estas senhoras que têm de esperar que as pessoas saiam esperando pela oportunidade de ter sobrado algum troco, caso contrário arriscamo-nos a poder ter meia torrada para o pequeno almoço em vez de uma. E tudo porquê? Porque uma senhora de uma liga qualquer me espetou com um autocolante que consegue ser mais rafeiro que um dos cromos especiais das recentes colecções da gatinha da Sanrio.
Pensei que, se o autocolante fosse de facto um cromo especial da colecção e contivesse, estampado na camisola da Kitty, o logotipo da Liga Portuguesa contra o Cancro talvez o sentido humanitário das pessoas fosse maior e levasse a uma maior contribuição. Deixo aqui a ideia para a Panini: a próxima colecção de cromos que seja dedicada a causas sociais e humanitárias onde cada cromo tenha estampado o valor em cêntimos que reverte e a que instituição e apresente a bela gatinha ostentando uma diferentes t-shirts.
Outra coisa que pensei, era que na entrada do shopping, a liga deveria orientar as voluntárias para convidarem essas personagens e visualizar um vídeo de 10 segundos onde poderiam assistir a imagens que elucidam o número 1500 representando as mulheres que partem todos os anos vítimas de um dos piores cancros para o sexo feminino: o cancro da mama. Tenho a certeza, que antes das refeições, isto seria um bom estimulante à dieta, o que levaria a um aumento dos trocos à saída do centro comercial.
Ontem dei as moedas à miúda que, contente por tentar acertar na ranhura, teve a oportunidade de ver a napa da carteira (da irmã da gatinha) arriscar-se ao peganhento do cola do autocolante. Disse-lhe que podíamos ter comprado uma carteira de cromos, mas que em vez disso ela tinha ajudado a salvar vidas de pessoas com cancro... ela sorriu, acreditando em tudo o que lhe dizia, porque confia em mim... outras pessoas nunca acreditariam que 1 euro desse para salvar fosse o que fosse... a não ser mais meia torrada.
Para o caso de encontrarem uns trocos em casa deixo aqui um atalho que vos livra dos químicos aderentes daquele pedaço de papel (e assim poupamos umas árvores): donativos para a Liga Portuguesa contra o Cancro (http://www.ligacontracancro.pt/gca/index.php?id=131).
M.A.