quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Nação de gases

missuamplu
 
“Que lhes vamos deixar? (…) uma nota de esperança colado no frigorífico: «Quando ficar muito quente entra um pouco. Um beijo dos teus pais.»”
 
Deve ser comoventemente irritante assistir a uma demonstração de orgulho tão profunda perante todo o mundo: “A partir de agora somos o país que ocupa o primeiro lugar no volume de emissão”. Espectáculo! A partir de agora é que é.

A partir de agora é que vai ser. Que me perdoe o mister mas que se renda às evidências, pois “Number One” é título para o poluidor número 1 e nós somos seus aliados para o que der e vier. E para diminuir pressões em Pequim a categoria é “país em desenvolvimento”, o que faz todo o sentido no âmbito educacional pois são parte integrante do processo de crescimento todo e qualquer acto de irresponsabilidades. Eu entendo. E tu também entendes, não entendes? (vá lá, diz que sim)

Com Portugal na emissão de dívida pública e a China na dos gases não faltará muito tempo até começarmos a importar de Pequim o stock da estufa… ou do efeito dela. É o tracto intestinal, de relações económicas baseadas no “toma lá e agarra-te aqui”, com as consequências do deglutir inconsciente de pequenas golfadas de ar quando o estado de ansiedade é grande. Respirem fundo. Respirem agora enquanto se pode.

O ano de 2012 está perto. Qualquer Golias sacode capotes e o Protocolo de Quioto dá os últimos suspiros. Com sorte não teremos de nos preocupar com a nossa saúde, pois esse será o menor dos problemas. O maior problema será a dos nossos filhos. Sim, a deles e a de todos os outros. Que lhes vamos deixar? Talvez um papel amarelado com adesivo de fácil remoção com uma nota de esperança colado no frigorífico: “Quando ficar muito quente entra um pouco. Um beijo dos teus pais.”

Basta desta flatulência do desenvolvimento económico que asfixia a sanidade oriunda de uma evolução de sapiens. Um qualquer dicionário ou enciclopédia dirá que o ser humano é a única espécie com a capacidade de criar fogo, cozinhar, vestir-se e usar um infindável número de tecnologias para inúmeros fins. Hoje posso acrescentar um paralelismo evolutivo nestas propriedades que nos definem: a capacidade de tornar fogo em guerra, de cozinhar a fome, vestir a hipocrisia do bolso próprio e usar um infindável número de tecnologias para um único fim. O seu próprio fim.

Hoje em Cancún temos uma ave nacional. No próximo dia 10 vai voltar para casa como todos os outros: sem nada para dizer, com tudo por fazer. Por cá se não emitirmos suficiente vamos queimando qualquer coisa no Verão.

Só há uma forma de ser conivente com a irresponsabilidade: ficar quieto. Há muitas formas de ajudar. Há muitas formas de participar e fazer “a coisa certa”. Fala, escreve. Avisa. Mexe-te.

Se queres algo mais na tua agenda vai a http://criarbosques.wordpress.com/participe/e inscreve-te.

M.A.